Aluna de Relações Internacionais participa de seminário internacional da ONU sobre Direitos Humanos e Negócios
– por Isabela Cabral e Lucas Meireles
A estudante de Relações Internacionais da UFRRJ, Lorena Nazar Chaves, viveu a emoção de participar do Fórum da ONU sobre Direitos Humanos e Negócios, UNForun on Business and Human Rights, que aconteceu entre os dias 27 e 29/11/2017, em Genebra, na Suíça. Nascida no Maranhão, a aluna tem uma trajetória acadêmica recheada de participações em iniciativas extracurriculares na Universidade como a Semana Acadêmica de Relações Internacionais (SARI), Simulação da Universidade Rural do Rio de Janeiro (SiUR) e na XPORT Jr, Empresa Junior de Relações Internacionais da UFRRJ.
Estimulada em ir ao evento por cursar a disciplina de ‘Estado Ampliado no Brasil’, Lorena decidiu se inscrever e se tornou uma entre os 11 delegados brasileiros selecionados pelo Instituto Global Attitude para integrar o evento. Em Genebra, a aluna pôde participar de palestras, debates e painéis, além de interagir com líderes e especialistas no âmbito dos Negócios e Direitos Humanos.
Em entrevista exclusiva ao Portal Humanidades, Lorena conta como foi sua experiência.
Como você foi selecionada pelo Instituto Global Attitude?
Eu fui para o Fórum da ONU pelo Instituto Global Attitude. Eles têm um programa que é o diplomacia civil, responsável por selecionar jovens para participar de Fóruns internacionais. O processo seletivo do Instituto foi em julho de 2017, no qual eu preenchi o formulário online com o meu currículo, respondi algumas perguntas relacionadas com o tema da conferência e também propus um tema de artigo para tratar sobre ele. Recebi a resposta, mais ou menos, em agosto. E de agosto até novembro nós (representantes) tivemos uma preparação com o Instituto.
As iniciativas que você participou na faculdade (SARI, AÍ IR, XPORT) fomentaram o seu desejo em seguir a área da diplomacia e a querer participar de Fóruns internacionais?
O que eu percebo do nosso curso é que a gente não tem tanto esse contato com a prática das RIs, isso fica muito na teoria. Então eu já acompanhava o Global Attitude com diplomacia civil e via que eles levavam jovens. Existem vários Fóruns durante o ano: tem o Banco Mundial, Fórum do BRICS e vários outros. Ao abrir as inscrições para esse Fórum de Negócios e Direitos Humanos, eu me interessei não foi pelas iniciativas que eu participava, mas foi porque em 2017.1 eu fiz uma disciplina chamada ‘Estado Ampliado no Brasil’ e, a partir de então, eu comecei a me interessar sobre Fundações Empresariais e Filantropia, tornando-se um tema que eu já estava querendo pesquisar um pouco mais. E, juntamente com essa disciplina, eu comecei a ter contato com as ODS, que são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Por isso, queria conectar um pouco os ODS com a Filantropia, Fundações Empresariais e Interesses Empresariais no Brasil, o que logo conectou-se com o tema do Fórum. Quando eu olhei o tema, achei super interessante a abordagem sobre Negócios e Direitos Humanos na perspectiva de Empresas e Multinacionais, com ênfase na reparação às vítimas de violência de direitos humanos e então resolvi me inscrever.
Você consegue entender a importância da sua representação como aluna da Universidade Rural?
“Eu acho que assim, dentro dos cursos de Relações Internacionais, o curso de RI da UFRRJ está um pouco distante do centro, além de ser um curso novo comparado a outros cursos de RI no Brasil como a UNB, por exemplo. Então eu acho que, assim, como todas as iniciativas que eu participei, muito do que a gente sempre procurou é divulgar o nome da Universidade e, também, o nome do curso com uma maior representação e a gente ter, realmente, maior contato. Até mesmo para saber o que a gente vai fazer depois daqui no mercado de trabalho. Então, sobre a minha representação, eu entendo um pouco sobre o meu desejo de divulgar o nome da Rural e trazer um pouco do que são as relações internacionais, seja por uma participação em um fórum, seja por um projeto ou por alguma iniciativa. E na Semana Acadêmica que teve em abril aqui, eu trouxe a organização brasileira Conectar para a mesma palestra que eles realizaram no Fórum, o único painel sobre o Brasil. E se eu tive o contato sobre uma discussão sobre o Brasil lá fora, por que eu não vou trazer isso para a minha Universidade? Então essa oportunidade de trazê-lo foi muito legal. Acho que é um pouco de entender o que é o nosso papel como estudante de RI e estudante da Rural.”
Você conseguiu aproveitar a sua estadia em Genebra além do âmbito acadêmico?
“Durante a noite a gente se reunia com a delegação. Em um desses dias, teve um que a gente foi comer fondue e foi muito legal porque o fondue é muito tradicional da Suíça e eu nunca tinha tido essa experiência de comer fondue na Suíça, além de experimentar fondue salgado, que eu não sabia que existia. E no último dia, para além do Fórum, a gente teve a chance de ir na Missão Brasileira (Missão permanente do Brasil) em Genebra e a gente conseguiu conversar com o Embaixador de lá sobre como são as visões da Missão e como eles conseguiam trabalhar. Depois dessa reunião, além do fondue, eu consegui conhecer um pouco da capital. Eu fui na parte antiga da cidade, fui na Catedral, no Jato D’água (que é o principal ponto turístico de Genebra). Fui também no Museu da Cruz Vermelha que foi o melhor Museu que eu já entrei na vida. Inclusive, havia uma parte que tratava sobre o Brasil e a violação de direitos humanos, com uma fotografia de uma favela do Rio de Janeiro que mostrava um policial com uma arma e uma mulher negra caminhando com uma bacia na cabeça evidenciando a desigualdade social. Turistei no último dia, bem rapidinho, mas foi bem legal. E dentro do próprio Palácio das Nações eu também consegui ‘turistar’ um pouco.”
Qual foi o seu maior desafio durante a Conferência?
“Como o Palácio das Nações é muito grande, acontece muita coisa ao mesmo tempo. Então eu também tive a chance dentro do meu Fórum de participar de uma outra sessão que estava acontecendo sobre Organização Internacional para as Migrações. Então um dos maiores desafios era escolher qual painel que eu gostaria de assistir porque como a programação era muito extensa, tínhamos que ir constantemente escolhendo. E como é muita coisa interessante você tem esse desafio. Eu achava que o meu maior desafio seria na comunicação, mas foi super tranquilo no inglês, porque os painéis eram ministrados nesse idioma. Mas alguns tinham tradução, como os de abertura e encerramento tinham traduções em todos os idiomas oficiais da ONU. Teve também um painel da América Latina completamente em espanhol, mas a representação do Brasil falou em português. Teve o painel brasileiro do Conectas que também foi em português e inglês. Mas acho que além da parte da escolha de qual painel eu queria assistir, também foi na hora de conversar com figuras importantes. Porque você chegar em uma figura importante a partir do networking que é mais difícil, porque você está sentada em um painel e do seu lado está, por exemplo, o Ministro do Trabalho da Angola. Você vai almoçar no restaurante da ONU e do seu lado está o Embaixador do Canadá, então você ter uma abertura e conversar com essas pessoas que é um pouco mais difícil.”
Durante o Fórum houve a menção ao desastre ambiental de Mariana sob o viés dos Direitos Humanos e Empresas. O que você pôde absorver desse momento e, principalmente, do discurso da vítima e pescadora local, Regiane Soares?
“Cada Fórum tem uma dinâmica diferente, no que eu fui você tinha a presença de vítimas de violações, membros da sociedade civil, a presença de representantes dos Estados e a presença de representantes de empresas. E no painel que tratou sobre o desastre de Mariana, a gente infelizmente não teve o contato com a representação da empresa, mas tivemos a presença de uma advogada do Reino Unido que foi falar um pouco sobre o que ela achava e também tivemos a presença de um Embaixador do Brasil. Foi muito emocionante ela relatando… Porque muito do que a gente analisa em RI é pelo olhar de alguém, então assim, você poder ter a chance de ter várias narrativas e olhares é muito interessante. A moradora de Mariana estava contando e ao mesmo tempo tinha uma moça desenhando um painel. Em cada sessão que ela estava, havia um quadro e em que ela pintava a história da narrativa do que era contado, e apontava soluções como se fosse quase um desenho… Então eu achei muito interessante. E a maneira como a Regiane narrava emocionava a todos. Vários representantes e algumas pessoas que se interessavam para perguntar, ficaram um pouco chocados em relação a fato. E alguns também elogiaram a postura do Embaixador do Brasil ao se manifestar ao dizer que o país estava fazendo o possível para atender as vítimas de violação. Mas ao mesmo tempo, tinham pessoas e palestrantes na mesa falando que a própria Fundação Renova estava mediando o contato entre as vítimas e a empresa que foi responsável pelo desastre, era um pouco parcial por favorecer as empresas.Então assim, você estar lá e vê-la denunciando o que a empresa tinha feito no Brasil, onde às vezes não é tão discutido, alguma coisa que pode ser efetiva, não apenas para o caso de Mariana mas para todas as vítimas de violações humanas, é muito incrível. É uma coisa que me marcou muito escutar o relato dela.
Em tempos de diversos retrocessos em direitos humanos no Brasil, como você enxerga a relação de empresas e seus impactos quanto às humanizações?
“Acho que está muito ligado a questão da obrigatoriedade em relação à reparação. Muitos casos de violação aos Direitos Humanos estão relacionados com algum tipo de desastre ambiental porque o que eu enxergo é que muitas empresas, seja na poluição de um Rio, desmatamento como também ocorre na Amazônia, porque hoje a gente vê a expansão da fronteira agrícola. E hoje muitas empresas têm confrontos diretos com os indígenas, uma questão que está sendo muito tratada do Brasil também, sobre os direitos dos índios e também sobre a demarcação dos territórios indígenas. Então o que eu vejo muito ainda é que essa questão de violação dos direitos humanos está muito relacionada com os recursos. Essa iniciativa da ONU de estar trazendo um grupo de trabalho para criar uma cláusula de obrigatoriedade é fundamental. Porque enquanto não tivermos algo que vincule as empresas ou as responsabilizem sobre tudo que acontece, seja no meio ambiente, seja com indivíduos, é como se a exploração fosse continuar demasiadamente. Não vão parar ou só vão continuar expandindo interesses. É como se o interesse sempre fosse sendo conquistado, às vezes com a conivência do Estado. Se o Estado não cria uma obrigatoriedade ou não cria algum tipo de punição, é como se os indivíduos não saibam o que está acontecendo. Então eu acho super importante que a gente, de uma certa forma, crie essa obrigatoriedade ou punição. Porque você vai limitar um pouco a exploração, vai limitar os interesses desenfreado por recurso e lucro delas. Não só o Estado deve se comprometer com isso, mas a própria sociedade civil. Eu estudo RI, pude estar no Fórum, tive a honra de participar de painel. Várias pessoas, não só estudantes de Relações Internacionais, mas a própria comunidade que tem contato com isso parecem não se importar. Às vezes parece que é algo que aconteceu, passou e acabou, mas as pessoas que sofrem com isso, sofrem por anos.”
O que você leva de especial dessa experiência?
“Bom, acho que qualquer estudante de Universidade quando chega em um ponto do curso, apesar de várias matérias incríveis em RI, são através das iniciativas extracurriculares em que temos um contato com a prática ou com algumas áreas que nos despertem o interesse em trabalhar… O Fórum me possibilitou uma paixão sobre uma possível área que eu quero trabalhar. O que ficou marcado para mim foi: Ver várias pessoas discutindo acerca de temas que tocam a sociedade. Porque não basta estudarmos as Relações Internacionais para lidar com coisas que não estão muito próximas da sociedade. Em determinado momento da palestra, houve um encerramento tocante em que um representante da mesa falou que: “o Fórum foi bom em vários sentidos, tomamos vários cafés, várias taças de champanhe, mas lembrem-se que enquanto existir alguma pessoa no mundo que não pode discutir sobre a sua realidade e não poder ter o lugar que nós tivemos nos corredores das Nações Unidas, quer dizer que o mundo é muito desigual e tem muitas coisas para mudarmos. Além dessa fala de encerramento, eu comecei a desenvolver meu interesse pelas ODS, sobre impactos sociais, Filantropia, desigualdade e ter a chance de participar desse projeto agora está sendo muito legal e está me direcionando para a área que eu quero seguir e despertando minha paixão. O que talvez não seria possível em uma outra iniciativa que eu já participei, que não me deu tanta paixão. Acho que cada um tem que se encontrar. No meu caso, vai desde o Fórum até agora. Vamos ver o que vai acontecer daqui para frente.”
Na oportunidade, Lorena aproveita para divulgar os próximos Fóruns sobre Diplomacia Civil do Instituto Global Attitude que abrirá inscrições no próximo semestre. São eles:
Outubro: Annual Meetings (Indonésia)
Outubro: Public Forun (Suíça)
Novembro: Cop 24 (Polônia)
Novembro: Human Forun Business (Suíça)
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